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Graça Foster se diz envergonhada com corrupção
Por Agência Câmara de Notícias Sexta-Feira, 27 de Março de 2015
Em quase sete horas de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, a ex-presidente da estatal, Maria das Graças Foster, disse que só foi informada de corrupção na estatal petrolífera em 2014, com a Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). Ela defendeu a gestão da empresa e disse que a operação da PF fez “um enorme bem à companhia”, já que a obrigou a adotar práticas preventivas de controle interno e externo.
Graça Foster foi ouvida pela CPI na qualidade de testemunha e se comprometeu a dizer a verdade. Foster estava acompanhada de três advogados. Apesar de defender seu legado na empresa e ter dito que fez o possível para defender a companhia, Graça Foster disse que a Petrobras merecia um gestor melhor que ela. “Alguém que identificasse esse tipo de caso de corrupção”, disse ela. Segundo Graça Foster, o esquema de corrupção na empresa “se formou fora da Petrobras” e “não era institucionalizado”.
Para o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), o depoimento de Graça Foster "trouxe esclarecimentos importantes". Segundo ele, "a sua convicção de que a corrupção foi um conluio entre ex-diretores, empresas, mas que ocorreram de fora para dentro da Petrobras, eu acho que isso vai conformando um juízo de valor acerca dessa questão".
Auditoria
Ela informou que a Price Waterhouse, empresa de auditoria externa contratada pela Petrobras, avalizou sem ressalvas as contas da empresa a respeito do primeiro trimestre de 2014, período que coincide com o início da Operação Lava Jato.
Ela acrescentou que a Price só mudou o parecer depois da divulgação dos depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema bilionário de desvios na empresa, segundo a denúncia de corrupção e lavagem de dinheiro do Ministério Público Federal, aceita pela Justiça Federal do Paraná.
A partir da Operação Lava Jato, segundo ela, a Price Waterhouse recomendou a criação de uma comissão interna para investigar as denúncias de corrupção. Essa comissão foi criada e duas empresas contratadas para fazer uma investigação interna, a TRW e a Gibson.
Esquema externo
A ex-presidente da Petrobras defendeu os procedimentos adotados nas licitações e contratações, negou o vazamento de informações privilegiadas e deu uma explicação para o aumento dos custos iniciais de obras e contratos. Segundo ela, os aditivos firmados pela estatal com empresas contratadas para a execução de obras tinham como origem a deficiência dos projetos básicos. Estes aditivos multiplicavam os custos dos projetos.
Graça Foster admitiu que isso aconteceu na construção da refinaria Abreu e Lima (PE), que teve custo inicial estimado em 2,5 bilhões de dólares, valor que subiu para 18,5 bilhões de dólares ao final da construção. “Se você não tem projetos básicos de qualidade, você vai ter aditivos. Na Abreu e Lima, a questão principal foram as mudanças sucessivas no projeto. Até as características do petróleo que seria refinado ali mudaram durante o processo”, explicou.
A ex-presidente da Petrobras disse que a empresa cometeu um erro ao divulgar o valor inicial da refinaria Abreu e Lima como sendo de 2,5 bilhões de dólares. “A previsão inicial correta seria um custo de cerca de 14 bilhões de dólares”, disse a ex-presidente da estatal. Ela admitiu como razoável uma margem de diferença de preço de 20% acima do valor previsto em contratações. “Dá para trabalhar com margens menores que essa desde que haja um projeto básico realista”, disse ela.
Pasadena
A ex-presidente da Petrobras repetiu declaração dada por ela no ano passado à CPI mista da Petrobras a respeito da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Ela disse que, na época, a operação de compra se justificava, mas isso acabou sendo um mau negócio em razão da queda do preço do petróleo.
“Eu esperava que, em 2014, a refinaria desse um resultado melhor, o que não aconteceu por causa da queda do preço do petróleo. Não foi um bom negócio, olhando com olhar de hoje”, repetiu Graça Foster.
A refinaria de Pasadena foi comprada pela empresa belga Astra Oil,em 2005, por 42,5 milhões de dólares. Um ano depois, a estatal brasileira decidiu adquirir 50% da refinaria ao custo de 360 milhões de dólares, e se tornou sócia da emprega belga.
Perdas de R$ 88 bilhões
Graça Foster também explicou outro episódio relativo às contas da Petrobras: a divulgação de um balanço contábil, no início do ano, interpretado como cálculo de prejuízos causados pela corrupção na época.
Ela classificou como “justo” o valor contábil de R$ 88 bilhões referentes a perdas da companhia, conforme balanço da empresa apresentado ao Conselho de Administração da Petrobras em janeiro último.
Ela negou, porém, que este valor corresponda a perdas com corrupção verificadas pela Operação Lava Jato. “Estes R$ 88 bilhões representam o valor justo por conta de uma série de ineficiências, até mesmo por causa de chuva e outros, não o número da corrupção”, disse à CPI da Petrobras.
“Eu defendi na ocasião que o mercado deveria ser informado deste valor, mesmo que a metodologia usada para fazer o cálculo seja questionada”, disse a ex-presidente. “A presidente Dilma Roussef pediu para a senhora não divulgar este balanço?”, perguntou o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). “Não, a presidente nunca me pediu isso”, ela respondeu.
Alertas de Venina
Lorenzoni também questionou a ex-presidente da Petrobras a respeito da afirmação feita pela ex-funcionária da Petrobras Venina Velosa de que teria alertado Graça Foster a respeito de corrupção na Petrobras em e-mails enviados entre 2009 e 2011. A ex-presidente da Petrobras disse que não foi informada de irregularidades.